O blogueiro Henrique Perazzi de Aquino, que escreveu texto inspirado em artigo famoso para prestar solidariedade aos militantes do movimento LGBT de Bauru
Quinta-feira, 29 de julho de 2010 - 02:35
Sigla gay é mantida em projeto
Prefeito descarta pedido de vereador evangélico e assunto provoca debate, com direito a texto irreverente em blog
(Cristina Camargo (matéria) e foto do Arquivo - Agência BOM DIA)
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A sigla gay que incomoda o vereador Roberval Sakai, o Pastor Sakai (PP), está mantida no projeto de lei que cria a Semana de Combate ao Preconceito e à Discriminação, em tramitação na Câmara Municipal.
O prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB) mandou o projeto de volta ao Legislativo sem tirar sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). “Acho que o projeto está pronto para a votação”, disse quarta-feira (28) à noite.
Ele foi procurado por Sakai, que é evangélico, para que retirasse a sigla. Respondeu que não e afirmou ao vereador que ele mesmo pode fazer isso, por meio de uma emenda parlamentar.
“Respeito a posição dele, a religião. Mas deixei claro que não iria tirar”. Sakai, que estaria fora de Bauru e não foi encontrado quarta-feira (28), ainda teria insistido com Rodrigo, sem sucesso. O vereador prefere o termo “orientação sexual”, que considera mais adequado.
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O caso provoca debate. Em texto publicado em seu blog e reproduzido nesta quinta-feira pelo BOM DIA, o historiador Henrique Perazzi de Aquino adapta publicação famosa do jornalista Tarso de Castro sobre a “bichice”, mas com ambientação em cenário local.
No artigo irreverente publicado no jornal “Pasquim”, Tarso chama de bichas várias personalidades da época, inclusive amigos e até um parágrafo do texto.
“Minha ideia foi prestar solidariedade”, afirmou Henrique sobre os militantes do movimento LGBT. “Mesmo não tendo a genialidade de um Tarso de Castro, tento fazer a reprodução com personagens da terrinha”, escreveu em seu blog.
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Outros dois
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Além da criação da Semana contra o Preconceito, outros dois projetos de lei relativos ao assunto serão encaminhados pelo prefeito à Câmara em agosto. Eles criam os conselhos dos Direitos Humanos e do Combate ao Preconceito.
Rodrigo pretende comparecer à 3ª Parada da Diversidade de Bauru, dia 29 de agosto, na avenida Nações Unidas. “Assim como também vou na Marcha para Jesus, organizada pelo Sakai”, explicou.
Tarso de Castro foi ‘brutal e sedutor’
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Um dos editores do “Pasquim”, jornal que ousava ser debochado em plena ditadura militar, o gaúcho Tarso de Castro ficou famoso pelo estilo audacioso e criativo, pelos jornais que criou e pelas mulheres que conquistou. Morto em 1991, é uma das lendas de Ipanema.
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“Era brutal e sedutor”, escreveu o jornalista e escritor Ruy Castro no verbete em que faz o perfil do colega no livro “Ela é Carioca”, sobre o famoso bairro do Rio.
O texto provocativo sobre a bichice geral foi publicado em 1970, no “Pasquim”. Pode ser considerado uma mostra da irreverência do jornal, que em julho de 1971 deu a manchete “Todo Paulista é Bicha”. Depois da palavra “paulista”, em letras minúsculas, vinha a explicação: “que não gosta de mulher”.
Na época, a manchete provocadora rendeu protestos de políticos e instituições de São Paulo. E vitaminou a venda do jornal, principalmente na capital paulista.
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Bicha
(Texto do historiador Henrique Perazzi de Aquino publicado originalmente no blog Mafuá do HPA)
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Todo mundo sabe que o Teatro Municipal é um reduto de bichas, assim como a Câmara Municipal, o prédio da Prefeitura Municipal e até os lugares onde circulam as mais engravatadas pessoas da cidade, como o Fórum e os sindicatos, associações, institutos e até os cemitérios.
Nada escapa da bichice. Até nas igrejas evangélicas os bichas marcam presença, mesmo que de forma enrustida. Nas católicas, então, vixe nossa. Os jogadores do Noroeste, sabem que por lá existem aqueles que são bichas e dentro dos plantões policiais todos fazem vista grossa, mas os bichas circulam livremente e em paz.
No Alameda Quality Center dá muito bicha, assim como no Shopping Center e no 21 Center. Eu tenho muitos amigos que são bichas e outro tanto que tenta esconder a situação. Tem aqueles que tapam o sol com a peneira e aqueles que se escondem dentro de um armário de quatro portas. Tudo bicha enrustida e mal amada.
O meu cabeleireiro é bicha, assim como frentista do posto a abastecer meu carro. O caixa do supermercado também é e o gerente do banco faz gênero sério, mas não deixa de ser. O guarda de trânsito com certeza é, pois para apitar daquele jeito, só mesmo sendo bicha.
O melhor texto do Jornal da Cidade é escrito por um bicha e o do BOM DIA idem, assim como o locutor do rádio e o apresentador de TV. O engravatado industrial, com carrão do ano, duas amantes, circulando pela Getúlio, é bicha, assim como o camelô que me vende uma quinquilharia. Meu chefe é bicha e o seu também.
Na feira, até o japonês do pastel é bicha, imaginem então o dono do bar da esquina. Tudo bicha. Os meus adversários são bichas, assim como os amigos e parentes. O cantor da noite é bichona, meu político preferido é bicha e aquele que não receberá meu voto também, assim como o cara que me nega um financiamento.
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Vocês se lembram da Casa da Eny? Muito bicha batia cartão por lá. Nos distritais nos domingos tá infestado de bichas e entre os corredores matinais, expondo seus bíceps, ferve de bicha.
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O cara da auto-escola, o do táxi, o porteito da indústria, o traficante da esquina, o vendedor de carros, o entregador de pizza, o dono da fábrica, o time de basquete quase inteiro, os estudantes da Unesp e da USC, a molecada no sinal, o dono da churrascaria, o sério pastor da igreja, o jornaleiro nem se diga, o engenheiro e o médico, todos são bichas.
Não escapa ninguém, ou melhor, escapa sim, vejo alguém, aquela linda travesti na esquina da Nações. Essa não é bicha, é macho paca, pois para estar ali, assumir aquilo tudo na cara de todos, só pode ser muito macho. Quem se assume bicha, também não o é, pois coragem não lhe falta. Já o resto é tudo bicha. Inclusive quem chama os outros de bicha.
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E não pensem que não deixo de ser bicha. Assumo aqui, diante de todos, ser como a maioria, BICHA. E que levante a mão quem também não estiver na mesma situação. E viva a diversidade, a bichice.
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